domingo, 18 de novembro de 2012

IMIGRAÇÃO RUSSA NO BRASIL


IMIGRAÇÃO RUSSA NO BRASIL


 


A imigração russa no Brasil tem mais de 100 anos de história e origem na primeira metade do século XIX, princípios do século XX. Os primeiros imigrantes russos, maioritariamente camponeses sem terra, fundaram, no estado do Rio Grande do Sul, uma povoação chamada Campina das Missões.      


A segunda onda de imigrantes russos invadiu o Brasil no período posterior à Revolução de Outubro de 1917 e nos anos de guerra civil na Rússia. Muitos dos imigrantes russos radicados no Brasil tinham cursos superiores e médios, pelo que ocuparam uma boa posição social no Brasil e arranjaram bons empregos como o de engenheiro, empresário, cientista, professor e outras. Muitos estabeleceram residência fixa no estado de São Paulo e na capital paulista.         


A terceira onda imigratória ocorreu no pós-guerra e levou para o Brasil dezenas de milhares de russos, refugiados da Revolução de Outubro nos países europeus que foram ocupados pela Alemanha nazi, ex-prisioneiros de guerra e aqueles que foram levados à força pelos nazi para a Alemanha.           


A imigração prosseguiu nos princípios dos anos 50 do século passado. Milhares de russos residentes na Manjuria, na China, tiveram de abondar a China com a chegada ao poder do partido comunista chinês. Nos anos 90, o Brasil viveu mais uma invasão dos russos, desta feita, especialistas contratados, dos quais alguns obtiveram vistos permanentes e outros, a nacionalidade brasileira.  


Hoje em dia, os russos, emigrados, em diferentes épocas, da Rússia são chamados em sua terra natal de compatriotas. Nosso convidado de hoje é o representante do Centro de Cooperação Russa em São Paulo, Dmitri Dalmatov. Vamos ter uma conversa sobre a comunidade russa no Brasil.          


- Quantos russos vivem no Brasil e quais profissões exercem?    


Dmitri Dalmatov: Os números citados são diferentes e variam entre 25 mil e 30 mil. Os russos se concentram sobretudo nos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná e Goiás. Sua principal área de trabalho é a agricultura. Boa parte dos produtos agrícolas produzidos por russos nos estados do Rio Grande do Sul, Paraná e Goiás, sobretudo carne, é exportada para a Rússia. Aqueles que residem no estado de São Paulo trabalham em áreas diferentes e não podem ser agrupados em uma única categoria. Exercem profissões diferentes, de engenheiro, de professor de língua russa e outras – diz Dmitri Dalmatov.            


- O que aproxima os russos no Brasil e qual é seu papel e lugar na vida desse país?
Dmitri Dalmatov: A comunidade russa no Brasil participa com grande interesse e entusiasmo de todas as atividades realizadas sob a égide do Centro de Cooperação Russa e da Embaixada, como exposições, concertos, manifestações históricas e culturais, e mantém-se fiel às tradições russas. Seu interesse pela Rússia cresceu após a crise dos anos 90, quando a economia russa recuperou e o papel da Rússia no cenário político internacional aumentou. A comunidade russa, como que se lembrando de suas relações com a Rússia, intensificou suas atividades no Brasil. Embora a comunidade russa não tenha, infelizmente, uma ampla representação nos órgãos de poder local, consegue levar à prática iniciativas legislativas para ela importantes. O exemplo é a lei estadual da celebração do dia 9 de outubro como Dia da Imigração Russa no Brasil – disse D. Dalmatov.  


- O que tem a dizer sobre a abertura da Casa Russa em São Paulo, a perspectiva da dupla nacionalidade, russa e brasileira, ou, como alternativa, o regime simplificado de visto para os russos residentes no Brasil e a falta de professores de língua russa em número suficiente?           


Dmitri Dalmatov: Essas questões estão em uma fase de ajustamento. A abertura da Casa Russa em São Paulo não é, por enquanto, possível. Temos a intenção de instalar, em 2011, em Brasília, uma estrutura semelhante, ou seja, o Centro Russo de Ciência e Cultura. Quanto a São Paulo, continuamos trabalhando, juntamente com a comunidade russa e a prefeitura local, para que nos concedam um lote de terreno ou um prédio para instalar a Casa Russa. O que conseguimos, até o momento, é uma promessa de nos conceder um prédio e uma área adjacente na zona de residência concentrada de russos na Vila Zelina. Todavia, esse prédio deverá alojar não só a cultura russa, mas sim, todas as culturas eslavas representadas no Brasil. A questão da nacionalidade é mais complicada, pois a Constituição da Rússia não permite a dupla nacionalidade. Por isso, estamos estudando a hipótese de emissão de uma carteira de compatriota que proporcione certos benefícios, por exemplo na área da saúde, aos emigrantes russos em visita à Rússia. No que respeita aos vistos, o respectivo acordo foi assinado pelos Presidentes de nossos dois países e deve agora ser ratificado por nossos parlamentos. O parlamento brasileiro adiou a ratificação para o próximo ano. Agora sobre professores de língua russa. Ultimamente, têm surgido no Brasil muitos cursos de língua russa ministrados por russos sem formação profissional nessa área. Mesmo assim, esses cursos dão seus frutos, e nós os ajudamos em material didático e outra literatura necessária. Como não temos um centro de ciência e cultura no Brasil, não podemos contratar oficialmente professores russos – disse D.Dalmatov.  


- Como avalia a atuação da sociedade de cultura e educação “Esperança” e de outras entidades semelhantes?            


Dmitri Dalmatov: Temos várias associações, entre as quais a sociedade “Esperança”, o grupo “Volga” e um grupo coral “Melodia”, dirigidas pelo Conselho Coordenador da Comunidade Russa. Realizamos conjuntamente várias atividades culturais, ajudando-nos mutuamente.    


- Em que a Rússia ajuda a comunidade russa no Brasil?

           
Dmitri Dalmatov: Realizamos exposições, temos filmes com legendas em português que são exibidos tanto em nosso centro como em cinemas. Financiamos, quando podemos, diversas atividades, alugamos espaços para a realização de eventos.          


- Há desejosos de se mudar para a Rússia para a residência fixa?          


Dmitri Dalmatov: Apesar de todos os nossos esforços, não são muitos aqueles que desejam mudar-se para a Rússia. Os russos radicados no Brasil já têm o seu modo de viver, sua posição social e filhos aqui crescidos. Por essa razão, não querem mudar sua vida. Mais do que isso, os imigrantes russos fixaram-se no Brasil há muito tempo. Aqueles que queriam, principalmente fieis da Igreja Ortodoxa dos Ritos Velhos, desistiram quando foram para uma visita à Rússia e ficaram sabendo que não podiam comprar um lote de terreno para praticar a agricultura em razão de não serem nacionais da Rússia — disse Dmitri Dalmatov.  


Os fieis dos ritos velhos são descendentes dos seguidores das correntes religiosas na Rússia contrárias à reforma da Igreja que foi realizada no século XVII pelo Patriarca Nikon e previa a revisão do missal e dos ritos religiosos. Daí, seu nome: fieis dos ritos velhos. — Como os descendentes dos imigrantes encaram a Rússia?    


Dmitri Dalmatov: Como a Rússia recuperou suas posições no cenário internacional, os jovens começaram a interessar-se mais pela Rússia: estudam a língua russa, participam de atividades das sociedades de cultura aqui representadas. Em outras palavras, a esperança de haver continuidade existe. Esperamos que a geração mais velha transmite sua experiência e suas tradições à jovem geração.

 

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